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Assim não vale?

Por vezes ouvimos, na rua e nos meios de comunicação, que devíamos restringir as importações vindas da China.

As justificações são muitas: fazem concorrência desleal porque os trabalhadores chineses são explorados, ao receberem salários miseráveis e com poucas condições de trabalho, não têm segurança social, não têm de cumprir as regras ambientais dos países europeus...

Perante isto, os defensores desta linha de raciocínio, argumentam que o resultado final será que os trabalhadores europeus terão de aceitar trabalhar perante uma igual exploração, também com salários baixíssimos e sem quaisquer condições de trabalho, se quiserem ser competitivos, ou então que o desemprego aumentará para níveis astronómicos.

Para evitar estas consequências desastrosas, dizem eles, só há uma solução: criar barreiras às importações chinesas!

Esta argumentação tem tantas falácias, que nem sei por onde começar.

Primeiro que tudo, o comércio com o exterior também cria empregos europeus, logo para começar no sector dos transportes. Depois, parte das importações podem ser de componentes usados por empresas, promovendo a produção dessas empresas, para além de aumentar a eficiência e a riqueza criada pela economia europeia. Para além disso, a produtividade é incrementada, uma vez que se aprofunda o processo da divisão internacional do trabalho.

Esta lógica também falha porque se assume que há um número fixo de empregos disponíveis, numa economia, neste caso na europeia. Isto não é verdade, enquanto houver necessidades humanas por satisfazer também haverá procura por quem possa tratar delas. Por isso, se importamos certo bem da China, mais barato, os europeus podem desviar recursos para satisfazer outras necessidades dos seus consumidores. Com comércio livre, se por exemplo importamos plásticos chineses, os consumidores europeus têm acesso aos plásticos, mais os produtos que passaram a ser produzidos pelos recursos que antes eram usados para produzir plásticos similares, na Europa. Sem comércio livre, ficamos apenas com os plásticos europeus.

Depois, quando se restringe o comércio livre, os pobres são os primeiros a ser afectados, porque deixam de poder comprar produtos que antes eram baratos.

Este tipo de medidas, criaria desemprego na China e, certamente, ressentimento contra o Ocidente. Para alguns europeus manterem os seus privilégios artificialmente, inverteríamos o processo de globalização, que nas últimas décadas tirou centenas de milhões de seres humanos da pobreza.

Quanto ao argumento da poluição, este parece-me ser o mais forte. Mas será que é suficiente para impedirmos as importações chinesas de entrarem? Não me parece, apesar de esta ser uma questão muito importante. A Europa, cumpre regras ambientais mais apertadas, em parte, devido às leis que foram criadas, mas também à consciencia ambiental que foi desenvolvida ao longo de décadas, pelos europeus. A China está agora a desenvolver-se, e por isso, infelizmente, essa ainda não é uma preocupação muito relevante para a maioria da população (para além de que estamos a falar de uma ditadura, onde as vozes discordantes são muitas vezes silenciadas). No entanto, não duvido que essa consciência venha a ser desenvolvida aos poucos, e à medida que as necessidades mais básicas da população forem sendo satisfeitas. Aí nós podemos ajudar, através da nossa maior experiência nesta área.

Olhando para o passado, vamos chegar facilmente à conclusão que, abrindo as fronteiras, os europeus não terão de passar a trabalhar pelos menos salários, nem nas mesmas condições dos seus parceiros chineses. A razão pela qual temos salários mais altos é porque temos uma maior produtividade, resultado de termos mais capital na nossa economia. Para além disso, quando a produtividade aumenta, as pessoas também começam a precisar de trabalhar menos. Hong Kong, que faz parte da China há mais de 10 anos, começou por se especializar nos têxteis e na produção de aparelhos simples, no inicio da sua industrialização, no entanto, nas últimas décadas com a concorrência de alguns países asiáticos, estes sectores praticamente desapareceram da sua economia, sem que isso tenha resultado em desemprego, simplesmente houve uma alteração na aplicação dos recursos e Hong Kong continuou a enriquecer. Ou seja, este argumento apenas revela ignorância económica.
A conclusão só pode ser uma, deixemos que os seres humanos, quer sejam europeus ou de outra proveniência qualquer, prosperem através do mercado livre, que é a única forma de o conseguir sustentadamente e sem empobrecer artificialmente os outros.
Fica ainda aqui o link para um post do André sobre o proteccionismo.

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